EDITORIAL

Caros amigos,

Este ano teve lugar, entre 7 e 15 de dezembro, a festividade de Hanucá, também conhecida como a Festa das Luzes, que celebra a sobrevivência espiritual do povo judeu. Hanucá comemora a vitória dos macabeus, cujo nome vem do seu líder, Judah Maccabi, no ano de 164 a.c., contra os exércitos dos gregos selêucidas que três anos antes tinham entrado em Jerusalém, e profanado o Templo. A comemoração de Hanucá ao longo de dois mil anos de vivência do povo judeu, lembra também as perseguições e as tentativas de conversão forçada, cujo historial em Portugal será narrado no Tikvá Museu Judaico Lisboa. Hanucá também festeja um milagre, que a tradição talmúdica relata: recuperado o Templo aos gregos, havia azeite para o candelabro sagrado, apenas por um dia. No entanto, a luz sagrada continuou a brilhar durante oito dias, simbolizando assim a sobrevivência espiritual judaica. Daí que a celebração de Hanucá dure oito dias, acendendo diariamente uma vela em cada braço do candelabro de nove braços, um dos quais é o acendedor.

É uma festa alegre, durante a qual as crianças brincam com um pião de quatro faces denominado sevivon em hebraico, no qual em cada lado estão escritas as iniciais da frase “nes gadol hayá sham” (um grande milagre aconteceu lá — na Terra Prometida). Também se comem doces e panquecas de batata.

Festa alegre que comemora um “milagre”, não podemos deixar de celebrar também o início da libertação dos reféns israelitas sequestrados pelo Hamas no dia 7 de outubro, em particular das crianças, das suas mães e avós que regressam assim às suas famílias e esperemos também à sua vida normal e ao final de um período tão doloroso pelo qual passaram. Em nome da Associação Hagadá, manifestamos a esperança da rápida libertação de todos os reféns, assim como a nossa solidariedade para com as suas famílias.

Que o brilho das velas de Hanucá simbolizem o valor da vida em contraste com a cultura da morte!

A Direção
Associação Hagadá – Tikvá Museu Judaico Lisboa

OPINIÃO

David Harris

Diretor Executivo do American Jewish Committee (AJC) de 1990 a 2022.

O antissemitismo, ou ódio aos judeus, está novamente a crescer, depois de décadas em que parecia estar em remissão.

Talvez o impacto do Holocausto e o seu legado, bem como os testemunhos dos sobreviventes, o tenham mantido sob controlo, mas as memórias estão agora a desvanecer-se e a geração dos sobreviventes a desaparecer.

A disseminação da democracia liberal também ajudou, sem dúvida, embora os valores democráticos liberais estejam hoje a ser desafiados de muitas formas, seja nas ruas, nas urnas ou nas redes sociais.

Tal como a História dolorosamente demonstrou, a resistência do antissemitismo nunca deve ser subestimada. De facto, tem sido descrito como o ódio mais antigo do mundo.

Então, o que é que se pode fazer para o combater? Lamentavelmente, não existe uma única vacina no horizonte para inocular o mundo contra esta patologia social implacável.

Mas isto não nos torna impotentes, de modo algum. Há papéis importantes a desempenhar pelos líderes governamentais e pelos representantes eleitos; pela aplicação da lei e pelo sistema judicial; e por figuras religiosas e organizações cívicas.

E, acima de tudo, a educação é essencial, tanto a curto como a longo prazo.

Em Portugal, onde a comunidade judaica é pequena, muito longe do seu apogeu em séculos anteriores, antes da Inquisição, é muito provável que muitos tenham pouco ou nenhum contacto com judeus, a cultura e religião judaicas, ou o lugar dos judeus na história portuguesa.

No entanto, é precisamente este contacto que melhor pode servir para "humanizar" e "desmistificar" os judeus, e construir uma ponte de comunicação, compreensão e ligação.

É por isso que o projeto do Museu Judaico é tão empolgante - e, atrevo-me a dizer, tão essencial.

Pela primeira vez, será um lugar para contar a história notável, embora pouco conhecida, da presença judaica em solo português durante milénios... das inúmeras contribuições dos judeus para a sociedade... das perdas quando os judeus foram vítimas do fervor religioso e da intolerância... da era moderna, quando o Portugal neutro desempenhou um papel importante como local de passagem para alguns judeus, incluindo a minha mãe e 13 outros membros da minha família, fugindo da "Solução Final" Nazi... e dos esforços mais recentes para criar uma vida judaica vibrante no país.

E este não é o único papel do Museu, ainda que seja um papel de extrema relevância. Sim, foi pensado como um local de visita excecional com arquitetura de nível mundial, exposições bem concebidas e peças preciosas.

Pretende-se também que seja um espaço vivo e inspirador para reunir pessoas, celebrar a arte e a música, organizar palestras, conferências e simpósios e abrir horizontes para novas formas de olhas para as coisas.

Por outras palavras, esta instituição é tanto sobre Portugal como sobre os judeus. É tanto sobre a história portuguesa como sobre a história judaica. E tem tanto que ver com o futuro de Portugal como com o futuro dos judeus.

E se isto não é uma forma de ultrapassar a intolerância e a ignorância, substituindo-as pela compreensão e pela cooperação, não sei o que será.

EM DESTAQUE
Provas públicas de apresentação e defesa da dissertação de mestrado de João Naia da Silva: “Estudo e Conservação de Quatro Alba Amicorum do Tikvá Museu Judaico Lisboa”

Conferência anual da AEJM - Association of European Jewish Museums

Realizaram-se no dia 7 de dezembro, na Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT-UNL), as provas públicas de apresentação e defesa da dissertação de mestrado do aluno João Naia da Silva, intitulada “Estudo e Conservação de Quatro Alba Amicorum do Tikvá Museu Judaico Lisboa”. Esta dissertação, que resultou da colaboração entre o Tikvá Museu Judaico Lisboa e o Departamento de Conservação e Restauro da FCT-UNL, contou com a orientação científica de Sílvia Sequeira, professora nesse Departamento e investigadora no Associated Laboratory for Green Chemistry (LAQV/REQUIMTE), e de Ângela Ferraz, gestora de coleções do Tikvá Museu Judaico Lisboa. Foram objeto de estudo e de conservação e restauro quatro Alba Amicorum (também chamados de “álbuns de autógrafos”) que pertenceram à família Eschborn e que foram recentemente doados ao Museu por Maria José Mota. Em linha com o programa de investigação do Tikvá Museu Judaico Lisboa esta dissertação permitiu alargar o conhecimento sobre estes objetos, fundamental para a sua utilização e gestão no contexto museológico, e afirma-se como um estudo pioneiro na medida em que se trata do primeiro alguma vez realizado de forma integrada sobre este tipo de objetos.

EXPOSIÇÕES
Inauguração da exposição itinerante “A Diáspora Judaica Portuguesa” na Sinagoga de Tomar

Exposição

A Sinagoga de Tomar inaugurou no passado dia 5 de dezembro a exposição itinerante "A Diáspora Judaica Portuguesa", uma iniciativa conjunta das Éditions Chandeigne (Paris) e da Associação Hagadá, responsável pela instalação e gestão do Tikvá Museu Judaico Lisboa. Este evento, que assinalou a data histórica do Édito de Expulsão de Judeus e Mouros, por D. Manuel I, contou com a participação virtual de João Schwarz, neto de Samuel Schwarz, figura incontornável na história da Sinagoga de Tomar, e de Livia Parnes, investigadora e autora da exposição.

A exposição estará patente ao público até ao próximo dia 17 de dezembro de 2023, de terça a domingo das 10h00 às 12h00 e das 14h00 às 17h00.

DOCUMENTÁRIOS
Apresentação do documentário "Cais da Europa: Roger Kahan no Porto de Lisboa

Museo Sefardí de Toledo

No passado dia 9 de novembro, foi apresentado o documentário “Cais da Europa: Roger Kahan no Porto de Lisboa”, na Gare Marítima de Alcântara. Este documentário foi produzido pelo jornal Mensagem de Lisboa e realizado por Humberto Giancristofaro, e tem como ponto de partida o facto de o Porto de Lisboa ter sido, em determinada altura da Segunda Guerra Mundial, o único porto da Europa aberto a acolher refugiados, maioritariamente judeus, e a permitir que partissem nos navios com a esperança numa nova vida.

Após a exibição do documentário, seguiu-se um debate sobre “O papel do Porto de Lisboa, da cidade e de Portugal a salvar vidas na Segunda Guerra: porque é tão esquecido”, que contou com a participação de Ferreira Fernandes, autor do livro “O Cais da Europa, Roger Kahan, refugiado, fotógrafo – Lisboa, 1940”, Manuela Goucha Soares, jornalista do Semanário Expresso, José Pacheco Pereira e Irene Fluser Pimentel, historiadores, do diplomata Seixas da Costa e de José Ruah, da Comunidade Israelita de Lisboa, com moderação da jornalista Catarina Carvalho (Mensagem de Lisboa).

COLÓQUIOS
Colóquio "Unlocking Diaspora Archives:Western Sephardic Diaspora Roadmap workshop"

Sukkot (Feast of Tabernacles) (Das Laubhütten-Fest)- The Jewish Museum, New York

No passado dia 28 de novembro, realizou-se o colóquio “Unlocking Diaspora Archives: Western Sephardic Diaspora Roadmap workshop”, na Biblioteca Nacional de Lisboa, no qual esteve presente o diretor executivo da Associação Hagadá - Tikvá Museu Judaico Lisboa, Manuel Pizarro.

Durante o colóquio foi apresentado o projeto WSD Roadmap, um portal de acesso aberto que agrega coleções documentais de bibliotecas e arquivos de todo o mundo que contêm materiais de interesse para o estudo da diáspora sefardita ocidental e dos seus antecedentes. No âmbito da participação de investigadores, arquivistas e bibliotecários portugueses e estrangeiros, foi debatido o património arquivístico judaico português e da diáspora judaico-portuguesa, e as estratégias para a sua preservação, divulgação e acessibilidade.

A gravação do colóquio encontra-se disponível para visualização no canal de YouTube do CHAM - Centro de Humanidades (sessão da manhã; sessão da tarde).

DOCUMENTAÇÃO
Cartas de Salónica
Século XVI

Recentemente o Tikvá Museu Judaico Lisboa adquiriu para a sua coleção um conjunto de cartas do século XVI pertencentes a comerciantes da comunidade judaico-portuguesa de Salónica. Estão escritas, umas em português com alfabeto latino, e outras, em português aljamiado, ou seja, português escrito com caracteres hebraicos, uma escrita muito rara da qual se conhecem atualmente pouquíssimos documentos. 

As cartas não apresentam nenhuma data, no entanto, estudos anteriores permitiram determinar com alguma certeza que terão sido escritas entre 1550 e 1570. O conjunto é muito rico em informações já que revela nomes de pessoas e lugares, tipos de mercadorias e preços, dados históricos e familiares e referências a acontecimentos da época. Dov Cohen, investigador especialista em Literatura do Povo Judeu da Universidade Bar-Ilan em Israel, que estudou estas cartas, atribuiu-lhe quatro autorias, tendo identificado três delas: Abraham Hodara, o seu irmão Joseph Hodara e Joseph Lindo. Para além dos autores são várias as pessoas mencionadas nas cartas, cujas origens portuguesas são inegáveis: Moise Baruch, Joseph Ben-Attar, Abraham de Boton, Moise de Boton, Abraham Ergaz, Daniel Gaguin, Joseph Gedaliah, Salomon Hodara, Isaac Sebah e Salomon Seneor.

Segundo o mesmo investigador, as cartas são a correspondência de judeus portugueses que exerciam atividade no Império Otomano e na Europa e que serviam de agentes a partir de Salónica. Os seus produtos eram comercializados ao longo do eixo que ligava Salónica às cidades italianas, uma rota que passava por Ragusa (Dubrovnik) e por outras cidades portuárias ao longo da Costa Adriática e por Ancona, Pesaro e Veneza. As cidades e localidades mencionadas nas cartas são: Adrianópolis, Ancona, Ancara, Bolonha, Castel Novo (a sul de Dubrovnik), Dubrovnik, Ferrara, Florença, Giannitsa (a oeste de Salónica), Pesaro, Siderokastron, Sofia, Veneza, Véria e claro, Salónica.

Esta importante aquisição vai abrir novas possibilidades no âmbito do estudo das línguas judaicas e, especificamente, proporcionar uma oportunidade ímpar para aprofundar o conhecimento sobre esta comunidade judaico-portuguesa, em particular sobre o período inicial da sua formação e desenvolvimento.

PERSONALIDADES
Samuel Schwarz
O Descobridor dos Marranos

Uma bela tarde de abril de 1920, uma delegação da Associação dos Arqueólogos de Portugal chega a Tomar para averiguar o que se dizia sobre um edifício pouco comum na Rua Joaquim Jacinto. Faziam parte da delegação o Eng.º Samuel Schwarz e o Coronel Garcez Teixeira que, em 1925, viria a publicar um trabalho sobre a Antiga Sinagoga de Tomar. Samuel ficou imediatamente entusiasmado com o que viu mesmo se o edifício à época estava muito degradado e a ser usado como armazém de mercadoria e de cereais.  Não teve a menor hesitação e, em 1923, compra o edifício e decide executar os trabalhos de limpeza e escavação. Revelava-se assim ao mundo a existência de uma sinagoga que é ainda hoje um dos poucos testemunhos do património edificado judaico de Portugal. Entretanto, o Estado Português tinha tomado a decisão de classificar o edifício como monumento nacional. Nos anos 1920 do século passado, pouco se sabia sobre a história da comunidade judaica em Portugal, apesar desta comunidade ter representado quase 30% da população de Portugal no reinado de Dom Manuel, na sequência da expulsão dos judeus de Espanha. Há registo de um trabalho sobre lápides hebraicas da autoria de Cardoso Bethencourt, mas pouco mais se sabia e eram escassos os eruditos em Portugal interessados no assunto. Samuel, na sequência do trabalho de Bethencourt, interessa-se pela existência de lápides hebraicas e publica, em 1923, um artigo intitulado “Inscrições Hebraicas em Portugal” (in Arqueologia e História) que foi reeditado em 2022.

Surge então a ideia de utilizar o espaço da antiga Sinagoga de Tomar como o primeiro Museu Luso Hebraico de Portugal e como local onde as lápides hebraicas espalhadas pelo país fossem expostas. A criação oficial do museu foi oficializada por despacho ministerial de 27 de julho de 1939. Num documento de julho desse mesmo ano, Samuel Schwarz propõe não apenas um museu Epigráfico, que reuniria todas as lápides descobertas até à data, mas também um museu histórico representativo das atividades culturais dos antigos judeus portugueses. Este trabalho acaba de ser reeditado pelo Município de Tomar, sob o titulo «Museu Luso-Hebraico de Tomar».

Samuel era oriundo da Polónia, ao tempo parte do império russo, e fazia parte de uma família muito extensa na qual o pai Ysucher era um grande erudito, em casa de quem desfilavam todos os grandes pensadores judeus da época. Samuel, nascido em 1880, era o mais velho de uma fratria de 11 irmãos e irmãs que, naturalmente, tinham sido educados na observância dos preceitos culturais e religiosos judaicos. Quando Samuel chegou aos 16 anos, Ysucher, o pai, decide enviá-lo para Paris onde conclui o curso de Engenheiro de Minas. Terminado o curso, Samuel desloca-se em trabalho a numerosos países, nomeadamente Espanha, Azerbaijão, Itália e Costa do Marfim.

Em Espanha, nas minas da região de Ourense e Pontevedra é pela primeira vez confrontado com o fenómeno marrano e escreve dois artigos sobre esse tema e sobre a diáspora judaica na sequência do édito de expulsão de 1492 dos Reis Católicos. Nesses artigos, Samuel refere-se à existência num cemitério em Varsóvia de uma campa que revela a origem sefardita do sepultado. Mais tarde, Samuel afirmará que, na realidade, a sua família era de origem sefardita portuguesa, tendo o nome de origem evoluído de Soares para Schwarz.

Em 1914, Samuel casara em Odessa com Agatha e, passeando pela Europa em lua-de-mel, foram impedidos de voltar a casa devido ao início da Primeira Guerra Mundial. De passagem por Espanha, onde Samuel já tinha trabalhado, disseram-lhe que Portugal era um país acolhedor. Chegado a Lisboa, decidiu aí ficar tão aprazível achava o país. Integrou-se imediatamente na comunidade judaica de Lisboa e, como engenheiro de minas, foi trabalhar na região de Trás-os-Montes, nomeadamente em Belmonte e Vilar Formoso. 

Como conta no seu livro «Cristãos-Novos em Portugal no Século XX», publicado em 1925, a descoberta da origem judaica dos habitantes de Belmonte e da região foi uma revelação. Samuel Schwarz só conseguiu ser admitido como correligionário na comunidade dos cristãos-novos de Belmonte quando, depois de uma nova tentativa para convencer os cristãos-novos de que eram membros do povo judeu, a mulher mais velha lhe pediu para citar ao menos uma oração em língua hebraica que «diz ser a língua dos judeus». Samuel Schwarz escolheu a oração Shemah Israel “Ouve, Israel". Cada vez que ele pronunciava a palavra "Adonai" ("Meu Senhor"), as mulheres tapavam os olhos com as mãos. «Quando terminámos», escreve Schwarz, a mesma mulher virou-se para as que a cercavam e anunciou num tom de grande autoridade: «É realmente Judeu porque pronunciou o nome de Adonai».

Uma nova edição do livro «Cristãos-Novos em Portugal no Século XX» foi publicada em 1993 pelo Instituto de Etnologia e Sociologia das Religiões da Universidade Nova de Lisboa. Foi publicado novamente em português, pela editora Cotovia em outubro de 2010.

Samuel publicou entre outros trabalhos, o “Cântico dos Cânticos” (1942), “Anti-semitismo” (1944), e História da Moderna Comunidade Israelita de Lisboa (1959), assim como “Arqueologia Mineira” (1936).   Na revista Ver e Crer escreveu: «O sionismo, no reinado de D. João III», «A Origem do nome e da lenda do Preste João», «Quem eram os mensageiros que D. João II mandou em busca do Preste João» (n.ºs 11, 14 e 17, 1946). Na Revista da Câmara Municipal de Lisboa publicou «A Tomada de Lisboa» e «A Sinagoga de Alfama» (n.º 55, de 1952 e n º 56, 1953). O livro «Cristãos-Novos em Portugal no século XX» teve um impacto considerável na comunidade judaica a nível mundial e foi traduzido para inglês, italiano e hebraico.

O mesmo livro foi quase 100 anos depois editado em francês sob o título «La Découverte des Marranes». Neste livro, Samuel Schwarz escreve sobre os cristãos-novos de Belmonte e conta como era difícil conquistar a confiança de uma comunidade que tinha vivido na clandestinidade desde os primórdios da Inquisição. Relata ter descoberto que eram as mulheres quem salvaguardava as tradições.  

“Então soubemos que são sobretudo as mulheres, principalmente as mais idosas, que conhecem de cor todas as orações judaicas e as dizem, presidindo às reuniões e cerimónias religiosas. As pobres criaturas nunca tinham ouvido falar da língua hebraica nem sabiam que existia.”

Um outro trabalho publicado postumamente merece ser mencionado. Trata-se de uma compilação das orações recitadas pela comunidade judaica que Samuel tinha recolhido nas suas andanças na região.

O livro intitulado «Orações Criptojudaicas» foi publicado em 2019 com o apoio do Museu Judaico de Belmonte.

No momento em que a exposição itinerante “A Diáspora Judaica Portuguesa” chega a Tomar e que o património judaico estará visível no futuro Tikvá Museu Judaico de Lisboa, o contributo de anos de vida de Samuel Schwarz para esta causa está totalmente realizado. 

por João Schwarz, neto de Samuel Schwarz.

Édito de Expulsão

Este vídeo reúne informação o Édito de Expulsão de judeus e mouros de Portugal e de que modo afetou a vida de milhares de pessoas forçadas a abandonar o país.

A Biblioteca de Samuel Schwarz

A Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova acolhe uma parte representativa da preciosa biblioteca que Samuel Schwarz reuniu ao longo da sua vida.

Entrevista a João Schwarz

Samuel Schwarz foi uma personagem fundamental do judaísmo português no século XX. Nesta entrevista, o seu neto João Schwarz fala da obra do avô e do espólio que doou ao Tikvá Museu Judaico Lisboa.

EFEMÉRIDES 

Édito de Expulsão de Judeus e Mouros, por D. Manuel I
5 dez. 2023

Mike Licht

«Determinamos, e Mandamos que todos os Judeus, e Mouros forros, que em Nosso Reino ouuer, se saiam fóra delles, sob pena de morte natural, e perder as fazendas....».

O Édito de Expulsão de judeus e mouros foi assinado por D. Manuel I, em Muge, perto de Santarém, a 5 de dezembro de 1496. Interessado no casamento com D. Isabel, a filha mais velha dos Reis Católicos, D. Manuel cedeu à sua chantagem: casamento, sim, mas apenas em troca da expulsão de todos os judeus de Portugal.

O Édito de Expulsão foi o golpe de misericórdia no judaísmo ibérico que, durante mais de mil anos, florescera na Península e o culminar do caminho iniciado em Espanha pelos Reis Católicos com o decreto de expulsão de 1492. Contrariamente aos Reis Católicos, D. Manuel não deixou sair os judeus de Portugal. A sua decisão era outra: mantê-los no reino e aos seus bens, não como judeus, mas sim como cristãos. O que irá acontecer uns meses depois através do batismo forçado.

EFEMÉRIDES 

Inauguração da Sinagoga de Belmonte
5 dez. 2023

Dario, 2017

A 5 de dezembro de 1996 foi inaugurada a Sinagoga de Belmonte, 500 anos depois da publicação do Édito de Expulsão dos Judeus, promulgado pelo rei D. Manuel I, neste mesmo dia, em 1496. Encontrando-se orientada para Jerusalém, tem o nome de Beit Eliahu (casa de Elias), em homenagem ao judeu benemérito que ordenou a sua construção, na rua da Fonte Rosa.

EFEMÉRIDES

Sessão evocativa no Parlamento português dos 500 anos do Édito de Expulsão
6 dez. 2023

A 6 de dezembro de 1996, realizou no Parlamento português uma sessão evocativa Sessão Solene Evocativa do 5.º Centenário do Édito de Expulsão dos Judeus, publicado a 5 de dezembro de 1496. Durante esta cerimónia, presidida pelo Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, pelo presidente da Assembleia da República, António de Almeida Santos, e pelo Presidente do Parlamento do Estado de Israel, Dan Tichon, foi simbolicamente revogado o Édito de Expulsão por unanimidade.

A transcrição desta cerimónia pode ser consultada aqui.

PRÉMIOS 

2.ª Edição  do Prémio Memoshoá de Investigação Yvette Davidoff
“Resistência no Holocausto”
2023-24

O Prémio Memoshoá de Investigação Yvette Davidoff, no valor de 5000 euros, tem o patrocínio da Comunidade Israelita de Lisboa (CIL) e evoca a refugiada austríaca Yvette Davidoff (1921-2008), como forma de homenagear esta figura incontornável que nos anos 1940, em Lisboa, teve um papel preponderante no acolhimento que a CIL proporcionou aos refugiados judeus em fuga do nazismo.

Yvette Davidoff trabalhou na secção de Assistência aos Refugiados da Comunidade Israelita de Lisboa, de 1943 a 1957, colaborando com instituições similares, como a JOINT, a HICEM, a Cruz Vermelha Portuguesa e outras. Privou de perto com Aristides de Sousa Mendes em virtude do apoio que a comunidade judaica lhe prestou depois de exonerado das suas funções de cônsul de Portugal em Bordéus por punição de Salazar.

O Prémio Memoshoá de Investigação Yvette Davidoff decorre entre 9 de novembro de 2023 e 9 de novembro de 2024, datas que recordam o pogrom conhecido como” Noite de Cristal”.

As inscrições podem ser submetidas até 31 de dezembro de 2023 aqui. O premiado será divulgado a 27 de janeiro de 2025. Para mais informações, contactar: memoshoa.premio2023@gmail.com ou memoshoa@gmail.com.

LIVROS 

Os Cristãos-Novos em Portugal no Século XX (2011)
de
Samuel Schwarz. Editora Cotovia.

O século XIX e início do século XX testemunhou a publicação de numerosos trabalhos sobre a Inquisição e os cristãos-novos em Portugal. Muitos desses estudos reavaliaram os contributos de figuras notáveis do judaísmo com raízes portuguesas (Garcia de Orta, Espinosa, Uriel da Costa, entre outros). As reformas de Pombal estiveram na origem deste progresso: data de maio de 1773 a "Carta de Lei, Constituição geral e Édito Perpétuo", que considerava "extinta a inaudita distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos"; pouco depois, os autos-de-fé e as condenações à morte foram proibidos.

DOCUMENTÁRIOS 

Portugal, trampolim para a liberdade (2023)
de Ary Diesendruck
.

Este filme descreve a passagem dos judeus por Portugal durante a Segunda Guerra Mundial, dando a conhecer um país que vivia sob uma ditadura, mas que não era antissemita. Retrata também o Porto de Lisboa em 1940, assim como a ação da Comunidade Judaica neste período e na assistência prestada aos refugiados.

A produção deste filme documentário foi apoiada pela CIL - Comunidade Israelita de Lisboa, com carácter de exclusividade. Será distribuído gratuitamente, com a exclusão de legendagem em língua específica, cópias, remessas para Instituições e Museus dedicados ao Holocausto.

Exposição itinerante “A Diáspora Judaica Portuguesa”

A Associação Hagadá juntou-se à Editora Chandeigne (Paris) na mostra da exposição “A Diáspora Judaica Portuguesa”, na sua versão portuguesa. 

Caso tenha interesse em receber esta exposição itinerante, contacte-nos através do nosso e-mail: tikva@mjlisboa.com.

Saber mais

Escreva-nos: tikva@mjlisboa.com

FICHA TÉCNICA
Coordenação editorial: Esther Mucznik 
Conteúdos e edição: Ângela Ferraz, Esther Mucznik, Jean-Jacques Salomon, Manuel Morais Sarmento Pizarro e Maria João Nunes
Grafismos: Joana Cavadas

 

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