EDITORIAL

Caros amigos,

A Kristallnacht, a Noite dos Cristais, como é traduzida, teve lugar nos dias 9 e 10 de novembro de 1938, instigada pelo Partido Nazi e pelas SA, tropas de assalto da juventude do partido. Nessa noite teve lugar um violento massacre antissemita em toda a Alemanha e na Áustria anexada, no qual centenas de sinagogas e milhares de lojas propriedade de judeus em todo o Reich alemão foram atacadas, vandalizadas, saqueadas, incendiadas e destruídas e os cemitérios judaicos profanados. Pelo menos 91 judeus foram brutalmente assassinados naquele massacre. A "Noite dos Cristais" deve o seu nome aos inúmeros cacos de vidro que cobriram as ruas que cobriram as ruas após a violenta onda de destruição. 

Ao refletirmos sobre o que se passou nessa terrível noite, não podemos deixar de evocar o 7 de outubro do ano corrente, em que num só dia foram assassinadas, mutiladas e queimadas 1400 pessoas de 0 aos noventa anos, e de mais 240 raptadas e feitas reféns pela

organização terrorista do Hamas, que comanda a Faixa de Gaza. Não pretendemos comparar as duas realidades, mas apenas lembrar que o “Nunca mais”, infelizmente, não existe. Apesar do choque inicial, estamos a assistir a manifestações, nomeadamente na Europa e nos E.U.A, as quais, em nome do povo palestiniano, acabam por ser claramente antissionistas e antissemitas, negando a uns o direito à existência como país, e aos outros o direito à vida.

O futuro Tikvá Museu Judaico Lisboa tem como uma das suas principais missões a de promover o diálogo entre as diferentes etnias, credos e origens. Assim, e como entidade portuguesa e judaica, não pode deixar de condenar veementemente a expressão de ódio a que, infelizmente, estamos a assistir, esperando que israelitas, palestinianos, muçulmanos e judeus possam um dia viver em Paz.

A Direção
Associação Hagadá – Tikvá Museu Judaico Lisboa

EM DESTAQUE
José Oulman Bensaúde Carp

Conferência anual da AEJM - Association of European Jewish Museums

A Associação Hagadá lamenta profundamente o falecimento de José Oulman Bensaúde Carp, ocorrido a 5 de novembro de 2023. Membro da Comunidade Israelita de Lisboa, da qual foi presidente longos anos, a sua inteligência, afabilidade e empenho potenciaram um maior reconhecimento do judaísmo pela sociedade portuguesa, orientado pelos valores da tolerância e do diálogo. José Carp foi também um entusiasta desde a primeira hora e até ao fim do projeto de criação de um museu judaico em Lisboa, não só enquanto presidente da CIL, nomeadamente no anterior projeto em Alfama, mas também como membro fundador da Associação Hagadá, tendo depositado coleções familiares que estarão acessíveis ao público no futuro museu. Tal como a história que pretendemos contar no Tikvá Museu Judaico, José Carp deixa-nos um testemunho, na sua vida, da união plena de uma personalidade judaica e portuguesa. Ao Homem e ao Amigo, a Associação Hagadá presta a sua homenagem, e tudo faremos para que a sua memória e legado permaneçam.

ARTE URBANA
Inauguração do mural do artista Vhils, no Porto de Lisboa

Museo Sefardí de Toledo

No passado dia 31 de outubro, Esther Mucznik, presidente da Associação Hagadá - Tikvá Museu Judaico Lisboa, esteve presente na inauguração do mural do artista Vhils em homenagem ao fotógrafo Roger Kahan. Esta obra, pensada pela Mensagem de Lisboa, resultou de uma reportagem do jornalista Ferreira Fernandes sobre a vida do fotógrafo e refugiado da Segunda Guerra em Lisboa. 

Como um negativo, o mural retrata a fotografia captada em 1940 de uma mulher solitária, que aguarda o embarque no Porto de Lisboa e o marco do correio, que ainda permanece junto ao mesmo edifício. Esta obra pode ser visitada no Cais da Rocha do Conde de Óbidos.

SEMINÁRIOS
Seminário Internacional: “Bridging the gap between Museums and Communities: the role of communication and education”

Museo Sefardí de Toledo

Nos dias 2 e 3 de outubro de 2023, o Diretor Executivo da Associação Hagadá, Manuel Pizarro, participou no Seminário Internacional “Bridging the gap between Museums and Communities: the role of communication and education”, que decorreu no Museu Nacional dos Coches, em Lisboa.

Este seminário, organizado pelo ICOM Europe, pretendeu reunir experiências e projetos de investigação sobre como as comunidades podem ser co-produtoras de conhecimento, propiciando o encontro de membros do ICOM não só da Europa, mas também de todo o mundo, a fim de desenvolver competências, aprender e partilhar experiências sobre a forma como os museus podem envolver-se com diferentes comunidades através da comunicação e da educação.

EXPOSIÇÕES
Inauguração da exposição “A Diáspora Judaica Portuguesa” no Museu das Vítimas da Inquisição Damião de Góis, em Alenquer

Sukkot (Feast of Tabernacles) (Das Laubhütten-Fest)- The Jewish Museum, New York

O Museu das Vítimas da Inquisição Damião de Góis, em Alenquer, inaugurou no passado dia 15 de outubro a exposição itinerante "A Diáspora Judaica Portuguesa", uma iniciativa conjunta das Éditions Chandeigne (Paris) e da Associação Hagadá, responsável pela instalação e gestão do Tikvá Museu Judaico Lisboa, da autoria da investigadora Livia Parnes. Este evento contou com a presença da vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Alenquer, Cláudia Luís, e da coordenadora de comunicação do Tikvá Museu Judaico Lisboa, Maria João Nunes.

A exposição esteve patente ao público até ao passado dia 12 de novembro de 2023.

PERSONALIDADES
Grácia Nasi
A judia portuguesa do século XVI que desafiou o seu próprio destino

Credits: Agnolo Bronzino

Nascida em Lisboa, em 1510, de uma família de cristãos-novos originários de Castela e batizada à nascença com o nome de Beatriz de Luna, viveu desde criança no mundo ambivalente de uma verdadeira fé escondida e de uma falsa declarada. Muito cedo interiorizou o perigo de se afirmar abertamente como judia e só o fez verdadeiramente em Istambul, já na meia-idade, no final de uma errância que percorre o mapa europeu até ao Império Otomano onde finalmente adoptou publicamente, e pela primeira vez, o judaísmo.

Grácia Nassi incarna nela própria o destino dos cristãos-novos “judaizantes”, eternamente dilacerados entre dois mundos, duas culturas, duas pertenças religiosas, duas identidades. Viúva aos 25 anos e à frente de um império baseado no comércio de especiarias, cobiçado por reis, príncipes e papas que não se coíbem de exercer sobre ela as mais violentas pressões para se apoderarem da sua riqueza, ela assumirá o seu papel de “mulher de negócios” simbolizando ao mais alto grau o espírito pioneiro, empreendedor e preponderante assumido na época pelos sefarditas judeus/cristãos-novos.

O seu fervor religioso e o desejo ardente de professar aberta e livremente a fé judaica são o fio condutor de toda a sua

vida: são eles que a levam a deixar Portugal, e que guiam todo o longo percurso que a levará até ao Império Otomano.

Grácia Nasi combateu toda a vida por aquilo em que acreditava, sem nunca alterar as suas convicções e a sua fé e protegendo sempre os seus correligionários perseguidos. Habituada ao convívio de igual para igual com os poderosos do mundo cristão e muçulmano e a enfrentar os permanentes assaltos à sua família e ao seu poder económico, a resignação não estava na sua índole, nem na sua história. Ela teve o mérito de ousar proclamar que nada condenava os judeus a aceitar passivamente a perseguição e o sofrimento.

Dona Grácia Nasi não foi uma grande dirigente comunitária, nem uma grande intelectual. Mas foi seguramente uma figura maior do judaísmo do século XVI. Pelo seu próprio exemplo demonstrou o fracasso da assimilação forçada. O que, afinal, toda a história humana nos comprova.


Extratos do livro de Esther Mucznik Grácia Nasi, A judia portuguesa do século XVI que desafiou o seu próprio destino. Esfera dos Livros, 2010.

Entrevista a José Oulman Carp

Neste video, José Oulman Carp partilha a história da família Bensaúde da qual descende e dá-nos a conhecer o seu espólio privado que será exposto no Tikvá Museu Judaico Lisboa.

Conversa com Esther Mucznik sobre Grácia Nasi

No âmbito de uma palestra realizada no Museu Judaico de Belmonte, o Tikvá Museu Judaico Lisboa relembra Grácia Nasi, judia portuguesa do século XVI, durante uma conversa com Esther Mucznik.

EFEMÉRIDES 

Dia Internacional Contra o Fascismo e o Anti-Semitismo
9 nov. 2023

Mike Licht

Todos os anos, na Europa e não só, o dia 9 de novembro é dedicado à comemoração das vítimas do pogrom "Kristallnacht" (Noite dos Cristais), em 1938, e das vítimas do Holocausto e do fascismo ao longo da história, bem como à sensibilização para o racismo, o antissemitismo, o extremismo de direita e o neo-fascismo nos dias de hoje.

O crescimento atual da violência tem levado numerosos países, nomeadamente europeus, a aumentar o nível de vigilância e segurança. Apesar de não existirem tais atos em Portugal, o sistema de segurança Interna (SSI) decidiu aumentar o nível de segurança, por razões preventivas e de cautela.

COLÓQUIOS 

Unlocking Diaspora Archives: western sephardic diaspora roadmap works
28 nov. 2023

Fórum de debate sobre o património arquivístico judaico português e da diáspora judaico-portuguesa, e as estratégias para a sua preservação, divulgação e acessibilidade, nele participando investigadores, arquivistas e bibliotecários portugueses. Neste colóquio serão igualmente apresentados os resultados do projeto WSD Roadmap.

A entrada é gratuita e sem necessidade de inscrição prévia. As sessões serão em formato híbrido e decorrerão em português e inglês.

Mais informação disponível aqui.

CONFERÊNCIAS 

Conferência europeia "Youth-Action-Culture"
Caldas Rainha
13 - 14 nov. 2023

Nos dias 13 e 14 de novembro de 2023, realizar-se-á a conferência "Youth-Action-Culture", no Centro Cultural das Caldas da Rainha. O Plano Nacional das Artes, a Rede Europeia de Observatórios das Artes e da Educação Cultural, a Fundação Calouste Gulbenkian, a Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, em articulação com a Cátedra UNESCO em Gestão das Artes e da Cultura, Cidade e Criatividade do Politécnico de Leiria e outras organizações nacionais e internacionais, unem esforços para discutir convergências estratégicas entre os sectores da juventude, da educação e da cultura, no sentido de conceber políticas que promovam os direitos culturais dos jovens numa sociedade democrática e, especificamente, o papel da educação cultural e artística para o desenvolvimento da cidadania cultural.

Mais informação disponível aqui.

CURSOS 

Curso “Holocausto: Memória, Educação e Cidadania”
Santarém
16 - 18 nov. 2023

A Direção-Geral da Educação dinamiza, em coorganização com o Mémorial de la Shoah, o Seminário Internacional sobre a Memória e o Ensino do Holocausto, no contexto do qual se realiza um curso de formação para professores de todos os grupos de recrutamento, de 15 horas, intitulado “Holocausto: Memória, Educação e Cidadania”, com o registo de formação CCPFC/ACC 110606/21, nos dias 16, 17 e 18 de novembro de 2023, na cidade de Santarém.

O curso conta com as parcerias da Associação Portuguesa de Professores de História, da Cátedra de Estudos Sefarditas «Aberto Benveniste» da Universidade de Lisboa, da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Santarém, da Memoshoá e da Associação para a Promoção da Filosofia (Prosofos) tem os seguintes objetivos formar e sensibilizar para o ensino do Holocausto numa perspetiva transversal à Cidadania e aos Direitos Humanos; fornecer instrumentos de trabalho didáticos/pedagógicos, propiciando meios de reflexão que permitam, através do ensino do passado, problematizar o presente.

Mais informação disponível aqui.

LIVROS 

Grácia Nasi (2022)
de
Esther Mucznik. Esfera dos Livros.

A história judaica tem mulheres extraordinárias. Da matriarca Sara à sionista Golda Meir, muitas mulheres judias fizeram história. Grácia Nasi foi uma delas. Com um carácter intocável e uma personalidade de ferro moldada pelas agruras da vida, esta mulher não teve medo de desafiar homens, papas, reis e o seu próprio destino. Nasceu em 1510 em Portugal depois de a sua família ter sido perseguida e expulsa de Espanha. Contudo não seria em Lisboa que encontraria a tranquilidade desejada. Viúva aos 25 anos, herdeira de um império comercial e de uma incalculável riqueza cobiçada por todos, Grácia Nasi torna-se numa verdadeira mulher de negócios, assumindo o seu espírito pioneiro e empreendedor, traço marcante dos sefarditas judeus/cristãos novos. Grácia Nasi percorre o mapa da Europa, passando por cidades como Antuérpia e Veneza, até chegar ao Império Otomano, onde finalmente pode praticar a sua fé às claras, sem recear qualquer perseguição. É aí que se dedica a ajudar os seus correligionários a escapar à Inquisição, apoia o estudo e o ensino religiosos, bem como a edição de Bíblias e estende a mão aos mais necessitados.

WEBSITES  

United States Holocaust Memorial Museum

Um memorial vivo ao Holocausto, o United States Holocaust Memorial Museum inspira cidadãos e líderes de todo o mundo a enfrentar o ódio, prevenir o genocídio e promover a dignidade humana. 

Para além dos variados recursos pedagógicos apresentados online, este museu disponibiliza também uma Enciclopédia do Holocausto, através da qual é possível aceder a diferentes tipos de conteúdos sobre este episódio da História Mundial. 

Mais informação disponível aqui.

FILMES 

Golda (2023)
de
Guy Nattiv.

Um thriller filmado à cadência do tiquetaque de um relógio que nos transmite a intensidade dos momentos dramáticos de decisões controversas e responsabilidades de alto risco que Meir – também conhecida como a "Dama de Ferro" de Israel, e, neste filme, magnificamente interpretada por Helen Mirren – enfrentou durante a Guerra de Yom Kippur em 1973. As suas ações, em circunstâncias impossíveis, decidiriam, em última instância, o destino de milhões de vidas.

Exposição itinerante “A Diáspora Judaica Portuguesa”

A Associação Hagadá juntou-se à Editora Chandeigne (Paris) na mostra da exposição “A Diáspora Judaica Portuguesa”, na sua versão portuguesa. 

Caso tenha interesse em receber esta exposição itinerante, contacte-nos através do nosso e-mail: tikva@mjlisboa.com.

Saber mais

Escreva-nos: tikva@mjlisboa.com

FICHA TÉCNICA
Coordenação editorial: Esther Mucznik 
Conteúdos e edição: Ângela Ferraz, Esther Mucznik, Jean-Jacques Salomon, Manuel Morais Sarmento Pizarro e Maria João Nunes
Grafismos: Joana Cavadas

 

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